Friday 26 September 2008

Local do Simpósio confirmado


O local do Simpósio entre os dias 3 e 7 de novembro será o Auditório da Biblioteca Central dos Barris, Rua General Labatut, 27, Salvador - BA. No dia 8, terá um evento especial na capela do Cemitério dos Ingleses, na Ladeira da Barra.

Saturday 13 September 2008

Coluna de Jonatas Galvão Abbott



Uma tarde quente, em Salvador. Lá estava ele sentado em pleno Pelourinho. Parecido com meu pai, incrivelmente parecido.

Havia ouvido histórias de família, que relatavam a respeito do primeiro Abbott no Brasil que originara o meu próprio nome. Entre outras histórias algumas davam conta de que ele havia fundado a primeira faculdade de medicina do Brasil e o primeiro museu de arte do país com o pai do Castro Alves e do Rui Barbosa. Meia verdade.

Jonathas Abbott nasceu na Inglaterra e veio para o Brasil como cavalariço de um médico baiano. Começou na faculdade de Medicina (a primeira do Brasil e que fica no Pelourinho) como servente e chegou a vice-reitor sendo titular da cadeira de Anatomia. Considerado o primeiro colecionador de arte do Brasil, seu acervo deu origem a um dos primeiros museus de arte brasileiro, o da Bahia em 1918 (a informação está na capa do site do Museu de Arte da Bahia).

Junto com o pai do Rui Barbosa e o pai do Castro Alves fundou e presidiu em 1856 a Sociedade de Belas Artes, primeira associação de artes do Brasil. Sua coleção particular de mais de 400 obras, sendo muitas delas oriundas da Europa, originou o museu baiano.

Pois bem, entre tantas histórias de família sobre Jonathas Abbott resolvi arriscar em 2003 e visitar a faculdade de medicina da Bahia no pelourinho. Azar, estava de greve e não nos deixaram entrar. Eu, Roberto Franskowiak e o amigo Jairo Geiger, na época representante da Plug In na Bahia, não desistimos. Ao descobrir que quem queria visitar Jonathas Abbott era o próprio (ƒº) o guarda de plantão abriu as portas. Não consegui visitar o Gabinete Abbott, nome que foi dado ao museu de anatomia, que ele fundou e presidiu. Mas acabei encontrando Jonathas no pátio numa estátua de tamanho natural que anos depois foi copiada em molde de gesso.

A história se seguiu e Jonathas Abbott filho, médico formado na Bahia se mudou para São Gabriel no Rio Grande do Sul gerando o primeiro e único tronco dos Abbott no país. Seu filho Fernando Abbott, cujo irmão João dá nome a rua do bairro Petrópolis em Porto Alegre, foi presidente do Rio Grande do Sul e gerou meu avô, Er Pereira Abbott.

Bem, esta coluna mais do que tudo é um registro rápido de uma história familiar. Meu nome não tem H por causa da ditadura militar que entre outras bobagens extinguiu nomes “importados” no Brasil.

E acaba de ser lançado no Brasil “O diário de Jonathas Abbott” , pela editora Francisco Alves, livro que conta especialmente suas aventuras na Europa quando, já um médico conhecido, volta ao continente de origem e obtém o doutorado na universidade de Palermo.

O autor do livro? O Embaixador Fernando Abbott Galvão, do Rio Grande do Norte.

Curioso reencontro de sobrenomes com este colunista, Jonatas Galvão Abbott, cujo nome é justamente em homenagem ao primeiro Abbott no Brasil, um improvável cavalariço inglês que prosperou, empreendeu, lecionou e ajudou a estruturar a Arte no país...

OBS.: E cá entre nós. Me cansa só de ler. Eu apanho aqui para fazer uma coluna semanal e o meu homônimo secular assobiava e chupava cana ao mesmo tempo num remoto Brasil dos séculos XVIII e XIX.

OBS2.: Não li o livro mas a Folha de São Paulo fez ótima crítica, enfatizando a visão de um inglês naturalizado brasileiro que vê a Europa com os nosso olhos, e também pela descrição da medicina da época.




Jonatas Abbott é diretor de Comercial e Marketing da Dinamize, fotógrafo, idealizador do Papo de Primeira e autor de dois cases vencedores do Top de Marketing da ADVB, em 2003 e 2006.

Tuesday 9 September 2008

Artigo sobre o médico britânico JL Paterson

HISTORIA DA MEDICINA artigo 52
A CHEGADA DO JOVEM DR. JOHN LIGERTWOOD PATERSON À CIDADE DA BAHIA, EM 1842, PARA EXERCER O SACERDÓCIO DA MEDICINA
Dr. Antonio Carlos Nogueira Britto Vice-presidente do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins. Fundado em 29 de novembro de 1946

John Ligertwood Paterson (1820-1882), Otto Wucherer (1820-1873) e José Francisco da Silva Lima (1826-1910) foram os precursores da medicina experimental no Brasil, no âmbito das moléstias tropicais, na segunda metade do século XIX, formando a notável Escola Tropicalista da Bahia.

Paterson, nascido no condado de Aderbeen, na Escócia, em 14 de setembro de 1820, recebeu o título de Doutor em Medicina em 29 de abril de 1841. Chegando à cidade da Bahia em 1842, submeteu-se, na Faculdade de Medicina da Bahia, ao Terreiro de Jesus, a exame de suficiência e verificação de título, com aprovação em 07 de novembro de 1842.

Notabilizou-se no combate à febre amarela e cólera-morbo, mormente pelo seu elevado desprendimento em atender os mais carentes.

Em recente pesquisa por mim desenvolvida, emocionei-me deveras ao perlustrar singular manuscrito, inédito e original, que registra para a posteridade, com detalhes, a chegada do jovem Dr. Paterson à cidade da Bahia em 1842, quando solicitou às autoridades policiais, título de residência na capital da província da Bahia.

Eis, na íntegra, o traslado do singular e histórico documento, respeitando a ortografia da época:

“Aos vinte dias do mes de Agosto de mil oitocentos equarenta e dous annos, empresença do Dezembargador Chefe da Policia da Provincia Antonio Simóes da Silva compareceo n’esta Secretaria da Policia John L. Paterson Subdito Portuguez, Natural digo Ingles, Natural da Inglaterra, idade vinte e dous annos, solteiro, vive de ser Medico, veio para o mesmo fim, declarou residir na rua dos Barris casa de rossa; eter chegado a esta Cidade no dia desenove do mes de Agosto do anno corrente no Navio Ingles Broad Oak vindo de Liverpool. Apresentou documento que ficou archivado; obteve titulo de residencia pelo praso de hum anno. Epara cumprimento do exposto assignou o presente. Eu Manoel Joaquim Garcia oescrevy.

John L. Paterson”

Observação: à margem superior esquerda do documento em tela estava registrado: “Estatura alta. Cor alva. Cabellos louros. Olhos az. Nariz reg. Boca reg. Barba serrada. Rosto compr.do

À margem superior direita do mesmo documento, estava consignado: “Foi reformado para sempre em 28 de julho de 1845”

Pesquisando o alentado livro do “Commisariado de Policia do Porto da provincia da Bahia” – “Livro de entradas de passageiros”, verifiquei que o Dr. Paterson, falecido a 9 de dezembro de 1882, nesta capital, retornou da Escócia, em companhia de um filho, em 27 de junho de 1882, viajando no vapor “Tagus”, procedente de Southampton, sendo provavelmente a última viagem transoceânica do sábio.


FONTES PRIMÁRIAS

DOCUMENTAÇÃO MANUSCRITA – INÉDITA E ORIGINAL

Arquivo Público do Estado da Bahia – Seção de Arquivo Colonial e Provincial – Polícia – Títulos de Residência dos estrangeiros (1842-1843) – Nº 5659 – Fl. 186.

Cf.: Britto, ACN. A Medicina Baiana nas Brumas do Passado. 1.ª edição. Contexto & Arte Editorial: Salvador, p. 227-228, 2002.