Uma tarde quente, em Salvador. Lá estava ele sentado em pleno Pelourinho. Parecido com meu pai, incrivelmente parecido. Havia ouvido histórias de família, que relatavam a respeito do primeiro Abbott no Brasil que originara o meu próprio nome. Entre outras histórias algumas davam conta de que ele havia fundado a primeira faculdade de medicina do Brasil e o primeiro museu de arte do país com o pai do Castro Alves e do Rui Barbosa. Meia verdade. Jonathas Abbott nasceu na Inglaterra e veio para o Brasil como cavalariço de um médico baiano. Começou na faculdade de Medicina (a primeira do Brasil e que fica no Pelourinho) como servente e chegou a vice-reitor sendo titular da cadeira de Anatomia. Considerado o primeiro colecionador de arte do Brasil, seu acervo deu origem a um dos primeiros museus de arte brasileiro, o da Bahia em 1918 (a informação está na capa do site do Museu de Arte da Bahia). Junto com o pai do Rui Barbosa e o pai do Castro Alves fundou e presidiu em 1856 a Sociedade de Belas Artes, primeira associação de artes do Brasil. Sua coleção particular de mais de 400 obras, sendo muitas delas oriundas da Europa, originou o museu baiano. Pois bem, entre tantas histórias de família sobre Jonathas Abbott resolvi arriscar em 2003 e visitar a faculdade de medicina da Bahia no pelourinho. Azar, estava de greve e não nos deixaram entrar. Eu, Roberto Franskowiak e o amigo Jairo Geiger, na época representante da Plug In na Bahia, não desistimos. Ao descobrir que quem queria visitar Jonathas Abbott era o próprio (ƒº) o guarda de plantão abriu as portas. Não consegui visitar o Gabinete Abbott, nome que foi dado ao museu de anatomia, que ele fundou e presidiu. Mas acabei encontrando Jonathas no pátio numa estátua de tamanho natural que anos depois foi copiada em molde de gesso. A história se seguiu e Jonathas Abbott filho, médico formado na Bahia se mudou para São Gabriel no Rio Grande do Sul gerando o primeiro e único tronco dos Abbott no país. Seu filho Fernando Abbott, cujo irmão João dá nome a rua do bairro Petrópolis em Porto Alegre, foi presidente do Rio Grande do Sul e gerou meu avô, Er Pereira Abbott. Bem, esta coluna mais do que tudo é um registro rápido de uma história familiar. Meu nome não tem H por causa da ditadura militar que entre outras bobagens extinguiu nomes “importados” no Brasil. E acaba de ser lançado no Brasil “O diário de Jonathas Abbott” , pela editora Francisco Alves, livro que conta especialmente suas aventuras na Europa quando, já um médico conhecido, volta ao continente de origem e obtém o doutorado na universidade de Palermo. O autor do livro? O Embaixador Fernando Abbott Galvão, do Rio Grande do Norte. Curioso reencontro de sobrenomes com este colunista, Jonatas Galvão Abbott, cujo nome é justamente em homenagem ao primeiro Abbott no Brasil, um improvável cavalariço inglês que prosperou, empreendeu, lecionou e ajudou a estruturar a Arte no país... OBS.: E cá entre nós. Me cansa só de ler. Eu apanho aqui para fazer uma coluna semanal e o meu homônimo secular assobiava e chupava cana ao mesmo tempo num remoto Brasil dos séculos XVIII e XIX. OBS2.: Não li o livro mas a Folha de São Paulo fez ótima crítica, enfatizando a visão de um inglês naturalizado brasileiro que vê a Europa com os nosso olhos, e também pela descrição da medicina da época. |
Jonatas Abbott é diretor de Comercial e Marketing da Dinamize, fotógrafo, idealizador do Papo de Primeira e autor de dois cases vencedores do Top de Marketing da ADVB, em 2003 e 2006.
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