Saturday 13 September 2008

Coluna de Jonatas Galvão Abbott



Uma tarde quente, em Salvador. Lá estava ele sentado em pleno Pelourinho. Parecido com meu pai, incrivelmente parecido.

Havia ouvido histórias de família, que relatavam a respeito do primeiro Abbott no Brasil que originara o meu próprio nome. Entre outras histórias algumas davam conta de que ele havia fundado a primeira faculdade de medicina do Brasil e o primeiro museu de arte do país com o pai do Castro Alves e do Rui Barbosa. Meia verdade.

Jonathas Abbott nasceu na Inglaterra e veio para o Brasil como cavalariço de um médico baiano. Começou na faculdade de Medicina (a primeira do Brasil e que fica no Pelourinho) como servente e chegou a vice-reitor sendo titular da cadeira de Anatomia. Considerado o primeiro colecionador de arte do Brasil, seu acervo deu origem a um dos primeiros museus de arte brasileiro, o da Bahia em 1918 (a informação está na capa do site do Museu de Arte da Bahia).

Junto com o pai do Rui Barbosa e o pai do Castro Alves fundou e presidiu em 1856 a Sociedade de Belas Artes, primeira associação de artes do Brasil. Sua coleção particular de mais de 400 obras, sendo muitas delas oriundas da Europa, originou o museu baiano.

Pois bem, entre tantas histórias de família sobre Jonathas Abbott resolvi arriscar em 2003 e visitar a faculdade de medicina da Bahia no pelourinho. Azar, estava de greve e não nos deixaram entrar. Eu, Roberto Franskowiak e o amigo Jairo Geiger, na época representante da Plug In na Bahia, não desistimos. Ao descobrir que quem queria visitar Jonathas Abbott era o próprio (ƒº) o guarda de plantão abriu as portas. Não consegui visitar o Gabinete Abbott, nome que foi dado ao museu de anatomia, que ele fundou e presidiu. Mas acabei encontrando Jonathas no pátio numa estátua de tamanho natural que anos depois foi copiada em molde de gesso.

A história se seguiu e Jonathas Abbott filho, médico formado na Bahia se mudou para São Gabriel no Rio Grande do Sul gerando o primeiro e único tronco dos Abbott no país. Seu filho Fernando Abbott, cujo irmão João dá nome a rua do bairro Petrópolis em Porto Alegre, foi presidente do Rio Grande do Sul e gerou meu avô, Er Pereira Abbott.

Bem, esta coluna mais do que tudo é um registro rápido de uma história familiar. Meu nome não tem H por causa da ditadura militar que entre outras bobagens extinguiu nomes “importados” no Brasil.

E acaba de ser lançado no Brasil “O diário de Jonathas Abbott” , pela editora Francisco Alves, livro que conta especialmente suas aventuras na Europa quando, já um médico conhecido, volta ao continente de origem e obtém o doutorado na universidade de Palermo.

O autor do livro? O Embaixador Fernando Abbott Galvão, do Rio Grande do Norte.

Curioso reencontro de sobrenomes com este colunista, Jonatas Galvão Abbott, cujo nome é justamente em homenagem ao primeiro Abbott no Brasil, um improvável cavalariço inglês que prosperou, empreendeu, lecionou e ajudou a estruturar a Arte no país...

OBS.: E cá entre nós. Me cansa só de ler. Eu apanho aqui para fazer uma coluna semanal e o meu homônimo secular assobiava e chupava cana ao mesmo tempo num remoto Brasil dos séculos XVIII e XIX.

OBS2.: Não li o livro mas a Folha de São Paulo fez ótima crítica, enfatizando a visão de um inglês naturalizado brasileiro que vê a Europa com os nosso olhos, e também pela descrição da medicina da época.




Jonatas Abbott é diretor de Comercial e Marketing da Dinamize, fotógrafo, idealizador do Papo de Primeira e autor de dois cases vencedores do Top de Marketing da ADVB, em 2003 e 2006.

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